O processo mediante o qual tem adquirido o movimento estudantil francês sua fisionomia atual se iniciou nos últimos anos da guerra da Argélia. Frente as atrocidades colonialistas do norte da África apareceu um movimento de rebelião moral entre os intelectuais e os estudantes franceses. A política do imperialismo francês feria diretamente a ideologia humanista compartilhada na universidade liberal. Casa vez era mais os estudantes que se colocavam contra a guerra colonial. Os mais conscientes e resolutos entravam nas organizações clandestinas de ajuda a FLN: Jovem Resistência, Movimento Anticolonialista Francês, Grupo Nizan. Ombro a ombro com os combatentes argelinos, se encarregavam de atividades de apoio e de reunir fundos. Organizavam, além disso, um perigoso trabalho de propaganda revolucionária no exército, a difusão de panfletos em quarteis, a implantação de núcleos militantes nos regimentos, a realização de espetaculares golpes de mão, como a detenção pela força dos abertos dos comboios de soldados. Frente a traição patriótica do Partido Comunista Francês, algumas centenas de estudantes se esforçaram assim em salvar a honra internacionalista do movimento operário francês.
Mas a massa estudantil estava disposta a apoiar a luta do povo argelino. Estudantes universitários e secundaristas iam a milhares nas manifestações contra a guerra colonialista. A batalha entre os defensores da Argélia Francesa e os partidários da independência era canalizada no seio da UNEF. A atitude do movimento estudantil frente a Revolução Argelina se achava no centro de todos os debates. As principais associações gerais caíam uma após outra nas mãos da esquerda. Os “minoritários” se convertiam em “majoritários”. O burô nacional da UNEF mudava de orientação e de mãos. A 27 de outubro de 1960 organizava uma manifestação na Mutualité. Apesar das denuncias do PCF e da UEC, que qualificavam esta iniciativa de provocação esquerdista idealizada pelo chefe da polícia, mais de 15.000 estudantes se concentraram na Plaza Saint-Victor e faziam frente aos guardas.
A partir de então se acelerou consideravelmente o processo de radicalização do meio estudantil. A OAS começava sua campanha de terrorismo na Argélia e na França. Frente à ameaça fascista, alguns militantes do círculo de história da UEC organizavam na Sorbone comitês de ação anti-fascistas, filiados na “frente estudantil anti-fascista” cujo objetivo era limpar o Bairro Latino dos comandos da OAS e da Juene Nación. Teve um êxito imenso na Sorbone, onde poucos dias depois de sua criação reagrupava já a várias centenas de militantes. O movimento se estendeu muito rápido as demais faculdades e aos meios intelectuais. Então tomou o nome de FUA. Sua ação foi metódica e eficaz: contando com arquivos bastante completos, organizava uma batida em regra de todo o Bairro Latino e expulsava das faculdades os militantes de extrema direita, simpatizantes e gente semelhante. Dona já do terreno, a FUA realizava intensa agitação em favor da independência da Argélia, com incursões relâmpagos contra as reuniões favoráveis à OAS, onde quer que se celebrassem. A vitória material conseguida em algumas semanas sobre os fascistas dava a FUA um prestígio enorme. Rapidamente esteve em condições de mobilizar dentro de prazos mínimos manifestações por surpresa milhares de estudantes. No dia da proclamação da independência argelina, seus militantes içaram por cima da Sorbone a bandeira da FNL.
O processo de radicalização política do meio estudantil, nascido do rechaço da guerra colonial, devia influir profundamente o movimento estudantil.
Iria provocar a metamorfose da UNEF, que de organização corporativista e folclórica se lançaria a experiência do sindicalismo estudantil.
Iria precipitar as crises da UEC, contida e secreta até então.
Iria criar condições e o marco político dentro dos quais se educou uma geração de militantes revolucionários que em sua maior parte são hoje os membros fundadores e os dirigentes dos grupos [revolucionários].